Construindo com terra a cozinha comunitária da ocupação Manoel Faustino do MSTB, na periferia de Salvador. Atividade do Canteiro Experimental fruto do vínculo da RAU+E com a comunidade. Foto: Carol
Vivenciar os canteiros de obra foi muito importante para a minha formação como arquiteta. Mesmo durante a graduação, eu busquei me envolver com obras construídas principalmente com terra. Em 2018, a convite do meu então professor Daniel Marostegan, participo como monitora de sua disciplina que atua no Canteiro Experimental da Faculdade de Arquitetura da UFBA. Vivenciei a disciplina como monitora durante três semestres consecutivos. Nela, buscamos realizar algumas atividades com a terra e o bambu como materiais de construção.

O espaço do Canteiro Experimental dentro da universidade é um espaço potente em aprendizado. Ele pode servir como um laboratório, ofertar disciplinas, atividades de extensão, grupos de pesquisa, propor novas tecnologias, desenvolver protótipos de habitação de interesse social, bem como ter suas atividades relacionadas às dos ateliês de projeto, promovendo discussões entre o fazer e o projetar a partir de aprendizados in loco.

No meu trabalho Arquitetura na prática com a terra: Graduação no canteiro eu abordo com mais profundidade no tema. Para acessar, clique aqui.
Para além da infinidade de experiências que ele pode proporcionar, o canteiro se torna ainda mais necessário se desejamos que as Universidades sejam capazes de formar profissionais aptos a projetar e construir com terra e outros materiais naturais, sendo assim um potente espaço de transformação na formação destes profissionais.
Instruções para a realização de um banco de terra ensacada, com base em nossa experiência no nosso Canteiro. Desenho: Leticia Grappi
Abaixo, fotos da execução do banco. Fotos: Akemi Tahara
Colheita de bambus no campus da UFBA e tratamento realizado por nós, no Canteiro. Fotos e desenho: Leticia Grappi
No semestre 2019.1 construímos uma cobertura provisória para nossas atividades. Utilizamos os bambus tratados por nós no semestre anterior, que serviram de estrutura, além de brita, cimento, areia e ferro já disponíveis no canteiro para a fundação. Usamos bambus cana-da-índia para travar os pilares e peças de madeira para suportar as telhas. Como o vão era grande para a dimensão das peças, fizemos vigas-vagão para vencer a distância do vão. Para cobrir, usamos telhas metálicas reaproveitadas que estavam abandonadas no estacionamento. As conexões foram feitas com cordas e arames.

As soluções construtivas foram sendo desenvolvidas ao longo da construção, de acordo com as necessidades estruturais e com a disponibilidade de materiais. Algumas soluções foram previstas e outras foram desenvolvidas posteriormente às observações da estrutura reagindo com o peso das cargas.

Abaixo, fotos do corte do bambu para a fixação como pilar. Fotos e desenho: Leticia Grappi
Acima, fotos do processo construtivo da cobertura provisória do Canteiro Experimental.  
Abaixo, cobertura pronta, com croqui explicativo da viga-vagão desenvolvida durante a construção. 
Fotos: Leticia Grappi e Léo Bahia. Desenho: Leticia Grappi
Visando promover a prática construtiva com terra além muros da Universidade, tivemos uma atividade de construção em hiperadobe na ocupação Manoel Faustino, fruto do vínculo da Residência (RAU+E) na comunidade. A construção viria a abrigar a cozinha comunitária das mulheres da ocupação.

Os moradores não conheciam a técnica do hiperadobe e foi muito rica a troca. Infelizmente, a construção não foi finalizada por inúmeras razões. Tiramos a terra do próprio local para construir. Em um contexto de ocupação onde as casas estão em situação bastante precária, é importante pensar nas possibilidades que a construção com terra e o suporte técnico da Universidade podem criar. Aqui a comunidade aprende com a Universidade e principalmente, a Universidade aprende com a comunidade.

Abaixo, fotos desta experiência na Ocupação. Fotos: Carol

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